quinta-feira, 28 de junho de 2012

O Naufrágio do Bote Salva-Vidas

Eu lembro que seus amigos te viraram as costas enquanto você chorava e eu te abraçava. Ei, o seu mundo caiu e eu tava lá, eu não precisava fazer isso, eu podia ter ignorado, te deixado à míngua. Seus amigos fizeram isso. Eles estavam bem, não importava mais se você tava mal ou bem. Mas eu tentei te fazer sorrir, eu fiquei feliz por conseguir.


 E ei, o seu sorriso é lindo. 




Eu lembro que seus pais brigaram com você e seu namorado não sabia o que fazer. Sabe aquela garota que vem chorando pra você e pede a sua ajuda? Quando você tava mal, ela não tava lá pra você. Você me chamou de melhor amiga, mas se esqueceu de me contar seus segredos. Eu lembrei da nossa amizade, quando eu te vi aos prantos e senti a necessidade de te socorrer. Eu podia correr, fingir não te ver. Mas eu me importo demais. Pra mim, cada lágrima é um pedacinho de alma desistindo, morrendo, sofrendo. Eu precisava te fazer sorrir, pois em cada sorriso, você repõe em dobro as lágrimas choradas. Eu te lembrei porque você tá aqui, te lembrei seu objetivo pra viver.



Eu lembro ainda, de você. É, lembra quando tudo se dividiu? Você tinha que escolher um lado, ficou do lado errado e o mundo ruiu. Você descobriu da pior forma, você tava envolta em sombras quando uma luzinha passou rapidamente e clareou de leve a sua mente, você ignorou. Então veio o clarão, você pôde ver, você se desesperou, seu mundo caiu, sua alma desistiu, suas lágrimas saíram livremente. Eu segurei a sua mão, apertei bem forte e disse "Eu estou aqui. Não desiste, não. Esquece essa ilusão. Olha o caminho bom ali, você pode ver melhor agora. Já sabe como seguir. Você errou, não deixa acontecer de novo." As trevas te puxaram repetidas vezes, e eu continuava a te lembrar "O caminho bom é esse, aqui você conhece de verdade. Você já pisou aqui antes e não se arrependeu." Tudo ficou certo outra vez. Eu não esperava que você agradecesse ou algo do tipo. Você existe e me faz bem todos os dias. Obrigada. 


Só que eu errei. Enquanto eu resgatava cada alma perdida e sem rumo, eu fui me perdendo. Me perdi em mim mesma. Esqueci dos meus conselhos, fiquei cega, fui iludida e iludi. O pior é que eu nem percebi. Eu me afundava na areia movediça e não percebia, e o sorriso no rosto não saía nem por um segundo. Eu escondi de mim mesma tudo o que eu sentia. Fui ficando tão fraca, tão enterrada nas minhas mentiras que nem eu poderia me salvar. Vocês não lembraram de mim. Eu levei tanto tempo colocando sorriso nos seus rostos, vocês ficaram tão felizes que esqueceram que talvez eu também pudesse ficar mal. E então a garota que estava lá pra todos precisava de alguém para estar lá por ela. Só que ninguém se apresentou. Ela se afogou. E ninguém sabe dizer se ela se salvou.


As vezes que eu esqueci da minha vida pelos outros, atropelei meus sentimentos pra resolver os problemas dos outros, não chorei as minhas lágrimas pra secar as dos outros, me impedi de ser feliz por saber que talvez a minha felicidade fizesse mal pra outro, eu fiquei de pé quando meu joelhos queriam ceder só pra levantar alguém. Eu não tenho força pra me sustentar, mas tento manter todos de pé. Eu me coloquei em último lugar pra fazer alguém sorrir enquanto chorava. Não que eu seja muito boa, não que eu seja uma santa, não que eu queira a sua gratidão, mas você podia fingir que se importa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário