quarta-feira, 11 de julho de 2012

Um Príncipe Poeta

Eu nunca fui bom com as palavras, sabe? Eu confundia significados, não sabia usar nas horas certas. Mas eu também nunca vi necessidade. Meus amigos me entendiam e eu entendia eles. Eu vivia da linguagem dos games e do futebol, era tudo o que eu precisava. Claro que eu me esforçava pra entender as garotas, mas só o suficiente pra dar uns pegas. A maioria é fácil demais, eu só precisava elogiar suas pernas, dizer como elas eram magras, falar da sua bunda e pronto, elas nem faziam questão da ligação do dia seguinte. Dá pra acreditar? De graça!

Até que um dia eu comecei a sentir uma dificuldade muito grande com isso. Tinha uma garota e bem... Ela não era como as outras. Eu sei que isso é clichê, mas ela era diferente. Eu falei o quanto ela era bonita e ela se ofendeu. Tentei falar de como ela era magra, tinha pernas bonitas e ela se ofendeu ainda mais. Nada do que eu falava sobre ela parecia lhe agradar. Eu juro que falei de tudo o que eu poderia falar e nada. Eu desisti. Ela era muito difícil, então eu joguei ela pra lista de amigos. Nós saíamos, passavamos o intervalo juntos, nos divertíamos e eu comecei a perceber outras coisas nela que eram ainda mais encantadoras do que peito, bunda, pernas e um rosto bonito. Eu poderia falar sobre isso durante dias e você nunca entenderia como ela é bela. O sorriso, ela tinha um sorriso maravilhoso. Na verdade, ela tinha vários sorrisos. Aquele sorriso que antecedia sua gargalhada, o sorriso que ela dava quando tava tentando não rir, o sorriso sarcástico e o sorriso que ela dava olhando pro chão porque estava envergonhada. Eram mil sorrisos, mil olhares e a cada novo sorriso e novo olhar, eu me surpreendia pois nunca imaginei que uma só garota pudesse ser tão fantástica

Um dia elogiei o seu sorriso e o seu olhar, falei de como eu achava lindo como ela colocava o cabelo pra trás da orelha, falei de como era visível a insegurança dela quando ela desviava o olhar, como era engraçado o jeito que ela brincava com crianças, falei de como era fofo as caretinhas que ela fazia ou quando ela brincava de ficar com raiva. O jeito que ela imitava os personagens de desenhos e filmes, como ela tentava mudar a voz mas nunca dava muito certo. Eu percebi que eu amava todos esses detalhes. E eu disse isso a ela. Por alguns minutos ela ficou calada. Ela não disse uma palavra e eu juro que nunca a tinha visto assim. Uma nova face, um novo encanto. Ela parecia surpresa. Acho que até eu me surpreendi. Logo eu que nunca fui bom com as palavras, tornei-me poeta. Tornei-me poeta como todos os outros milhões de poetas, pelo mesmo motivoque milhares de poetas. Eu encontrei um anjo e ao mesmo tempo o amor me encontrou. Ambos sorriram para mim. Tornei-me poeta pois me apaixonei. Então as palavras fluíam tão facilmente como a minha respiração. Eram só os sentimentos que não cabiam em mim vazando. Saindo de mim, tentando chegar nela. E os dela, que sem querer, desajeitadamente, chegavam a mim. 


(Depoimento de um garoto, como tantos outros, que se apaixonou.)