quinta-feira, 7 de junho de 2012

Janelas Fechadas

Num dia claro e quente de verão, sem nuvens no céu, uma paisagem alegre com crianças correndo pela rua, se jogando água, soltando bolinhas de sabão. Porém algo contradizia a paisagem tão acalorada.

No meio daquela vizinhança alegre, havia, numa casa um pouco mais afastada uma garota. Lá as janelas permaneciam fechadas, apesar do calor, o pequeno ventilador parecia preguiçoso. Mas o olhar vago, estava lá. Muito difícil imaginar com o que sonhava a garota de olhar escuro. De alguma forma, aquele rosto quase infantil carregava um olhar pesado, como se já tivesse passado por muito, sobrevivido à guerra e perdido quase tudo. Era um olhar de quem fizera muitos sacrifícios. Pelo que teria passado a jovem garota? O que mais doía naquela imagem era que não haviam lágrimas, como se a lagoa das lágrimas estivesse seca numa época em que muito se precisava dela. Ou será que a garota guardava as suas lágrimas para um futuro ainda pior?

Ao olhar para aquela jovem, eu não tinha a impressão de que ela era frágil, muito pelo contrário, ela parecia forte, forte demais até. Tão forte que parecia fria, gélida, maltratada. Eu quase podia ver as cicatrizes e os calos em seu coração. Talvez o coração dela estivesse tão machucado que esquecera-se de sua função. Esqueceu-se de sentir, se ter emoções e só lembrava-se de bater, porque era só isso que importava, se manter viva, batalha após batalha. Seu coração já não era o mesmo, fazia apenas sua atividade mecânica, esquecendo-se da sua participação direta na alma. Assim então, isolou-se a alma, ficando vazia, escura, sem sentido, perdida. Sendo assim, fechou suas janelas porque a luz lhe incomodava. Por isso os olhos tão vazios. E agora, quem quer que olhasse pra janela, se incomodaria com a sua escuridão.


Aquela pobre menina era o retrato vivo de que o mundo pode ser cruel aos que parecem fracos, que nem todos que sobrevivem ganham, que perder tem muito mais a ver com lembrar-se do que é do que com existência. Afinal, de que adianta uma vida sem um objetivo, sem um sonho, um desejo, uma vontade, um amor, uma dor, uma lágrima, um sorriso? 

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